Sou americana, mas não represento políticas dos EUA, diz Amy Pope

Autor: RICARDO DELLA COLETTA / FOLHAPRESS

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A americana Amy Pope, 48, atual diretora-assistente para Gestão e Reforma da OIM (Organização Internacional para as Migrações), tenta ser eleita a nova chefe da agência da ONU. Ela esteve nesta semana em Brasília para defender sua candidatura em reuniões com autoridades brasileiras. Em entrevista à Folha de S.Paulo, disse que não representa as políticas migratórias dos EUA e defendeu maior atenção aos fluxos migratórios internos na África e na América Latina.

PERGUNTA – A sra. está concorrendo a diretora-geral da OIM contra António Vitorino, que tenta a reeleição. Por que entrou na disputa?

AMY POPE – Não dá dúvidas que o tema migração -e o papel que a OIM pode desempenhar- é cada vez mais importante. Não podemos mais apenas tratar os sintomas, há milhões de pessoas cujas vidas estão em risco. A razão de eu concorrer é que o status quo não é sustentável. Acredito que precisamos sair do século 20 e entrar no século 21. A liderança da OIM precisa estar totalmente engajada em viajar aos locais onde as migrações estão ocorrendo, para trabalhar junto às comunidades mais impactadas. Não podemos fazer isso com os métodos antigos, é preciso trazer novas ideias e energia.

P. – Quais são os argumentos apresentados às autoridades brasileiras sobre sua candidatura?

AP – Primeiro, colocar os migrantes no centro do que fazemos. A solução que existe numa parte do mundo pode não funcionar em outra. Em segundo lugar, fortalecer nossa relação com os Estados-membros. Finalmente, nossa força de trabalho é fundamental para o sucesso. Precisamos ter uma melhor representatividade de nacionalidades. Não podemos ser uma organização composta [apenas] de europeus. Se queremos trabalhar numa escala global, precisamos garantir igualdade de gênero em todos os níveis.

Como pretende convencer os países da OIM que sua gestão não estará excessivamente focada nos problemas migratórios dos EUA?

AP – É preciso olhar para meu trabalho dentro da organização. Eu liderei os esforços para reformar o orçamento [da OIM], algo que há anos precisava ser resolvido. A forma que eu alcancei o consenso foi encontrar todos os Estados-membros -conversar com cada grupo geográfico-, viajar às capitais para ouvir os diferentes pontos de vista sobre o que estava funcionando e o que não estava. Assim alcançamos uma solução de consenso. Essa é a fórmula a partir da qual precisamos trabalhar. Nós somos uma organização global, é fundamental que a diretora-geral esteja no terreno e entenda o que está ocorrendo. Eu vou me envolver, estarei nas capitais e visitarei os locais onde os migrantes estão e onde se estabeleceram. Migração é um tema que por vezes gera atrito entre EUA e Brasil.

P. P Isso é um obstáculo para pedir o voto do governo Lula?

AP – Acredito que não. Eu não represento o governo dos EUA. Eu sou a candidata dos EUA, mas não represento suas políticas [migratórias]. Reconheço que cada governo tem o direito de estabelecer suas próprias políticas e de administrar suas fronteiras como preferirem. Nosso trabalho na OIM é sobre proteger os direitos e a dignidade dos migrantes. A coisa mais perigosa na migração é quando ela ocorre por canais irregulares, quando os migrantes podem ser explorados por atores criminosos. A OIM pode atuar na criação de canais regulares para que as pessoas tenham opções em outros lugares.

P. – Quais são os principais cenários hoje no mundo que a organização deve atuar?

AP – Existe um grande foco na migração do Sul para o Norte sem entender a migração que ocorre entre diferentes regiões do Sul. Quando olhamos para a América Latina, vemos um número recorde de pessoas em movimento. Claro que isso envolve venezuelanos, haitianos; vimos muita migração em direção ao Norte, além de uma migração tremenda dentro dos próprios países, de áreas rurais para as urbanas. Para mim, esse é um aspecto que precisa ser abordado com os Estados-membros, e que acho que não tem recebido a atenção necessária.

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