Silvinei Vasques nega interferência no 2º turno e diz a CPI que PRF é alvo de injustiça

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no governo de Jair Bolsonaro (PL), Silvinei Vasques afirmou à CPI do 8 de janeiro nesta terça-feira (20) que a corporação é alvo da “maior injustiça” da história e negou que ela tenha atuado para prejudicar eleitores de Lula (PT) no dia do segundo turno das eleições.

Primeiro depoente da CPI, Silvinei foi convocado por causa das fiscalizações em rodovias federais no segundo turno das eleições. A suspeita é a de que, sob comando dele, a PRF tenha tentado dificultar a chegada de eleitores do hoje presidente e então candidato Lula às urnas.

“Isso não é verdade. Porque é no Nordeste brasileiro é que temos nove estados, nove superintendências. Temos a maior estrutura da PRF no Brasil, a maior quantidade de unidades da PRF”, afirmou em depoimento.

“Nos estados do Nordeste estão lotados o maior efetivo da instituição [PRF] e lá está a maior malha viária de rodovias federais. O maior número de acidentes e a maior frota de ônibus no Brasil”, completou, negando que a corporação tenha tentado atrapalhar eleitores.

Desde o ano passado, o ex-diretor da PRF é investigado por três atos, todos relacionados a um possível favorecimento ao ex-presidente Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Ele foi exonerado do cargo no dia 20 de dezembro.

Questionado sobre a reunião que ocorreu na sede da PRF dias antes do segundo turno, Silvinei disse que os superintendentes foram proibidos de entrar com celulares e gravadores porque isso é praxe. Ele também negou que tenha escolhido os locais da operação.

“Quem escolheu os locais foram os chefes de delegacias ou os chefes dos serviços de operações. Isso é uma planilha Google, que pode ser auditada por perícia e vai verificar que não foi em Brasília que escolheu os locais onde as viaturas ficariam”, declarou.

Além da suspeita em torno da operação da PRF —sobretudo em cidades da região Nordeste—, Silvinei é acusado de ter sido leniente durante o bloqueio de estradas após a vitória de Lula, e declarou voto em Bolsonaro na véspera do segundo turno.

Sobre postagem em rede social, ele afirmou que “é normal na PRF os policiais terem um candidato”. “Eu postei. Como começaram algumas críticas da imprensa, eu fui lá e apaguei. Mas era a minha rede social, no sábado, com meu celular e usando a minha internet.”

Silvinei disse à CPI que não tem “nenhuma relação íntima” com Bolsonaro, que pediu para tirar fotos com ele porque os demais ex-presidentes não deixavam, e que o cargo nunca foi usado em benefício de nenhum dos dois.

A sessão chegou a ser suspensa por 15 minutos após um bate-boca generalizado. Interrompida diversas vezes enquanto interrogava o depoente, a relatora dos trabalhos, Eliziane Gama (PSD-MA), mandou o deputado federal Éder Mauro (PL-PA) calar a boca.

“Vá gritar em outro lugar, aqui não. Cale sua boca. Respeite essa comissão. Cale a boca. Não vou aceitar isso na comissão”, afirmou a senadora, reclamando que Mauro não é nem sequer membro da CPI mista.

A oposição protestou quando a relatora perguntou se Silvinei havia sido condenado por ter agredido um frentista que não quis lavar sua viatura. Depois de se fazer de desentendido, o policial admitiu que foi condenado em primeira instância, e disse que está recorrendo com a consciência “tranquila”.

Com o depoimento de Silvinei, a base de Lula na CPI quer trazer Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres para o centro das investigações. Com a vitória de Lula, Torres voltou a ser secretário de segurança pública do Distrito Federal e estava à frente da pasta em 8 de janeiro.

A CPI também aprovou nesta terça-feira a convocação do ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias, do ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha e do coronel do Exército Jean Lawand Junior.

Autor(es): THAÍSA OLIVEIRA / FOLHAPRESS

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