SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em disputa pelo eleitorado de direita, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Ricardo Salles (PL) dependem dos apoios de Jair Bolsonaro (PL), de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do próprio PL para consolidar suas candidaturas à Prefeitura de São Paulo em 2024.
Na outra ponta, os concorrentes à esquerda são Guilherme Boulos (PSOL), que já tem um acerto com o PT, e Tabata Amaral (PSB), que também ensaia uma candidatura.
O PL está dividido no racha que marca a legenda do centrão desde a filiação do agora ex-presidente o PL fisiológico vê vantagens (e cargos) em apoiar o prefeito, enquanto a ala “Bolsonaro acima de tudo” quer um candidato que siga sua cartilha, como o ex-ministro do Meio Ambiente.
O PL é o partido com a maior bancada da Câmara dos Deputados e da Assembleia, o que faz deputados paulistas não só Salles, mas também Eduardo Bolsonaro (PL-SP) mirarem uma candidatura própria na capital paulista.
Quem não gostaria de ter que fazer essa escolha é o governador Tarcísio, que desde a sua própria campanha busca furar a bolha dos ideológicos sem perder seu apoio entre os bolsonaristas. Ele tem se aproximado de Nunes, inclusive trabalhando em projetos conjuntos na cracolândia.
Uma solução de consenso seria, portanto, que um candidato ligado a Bolsonaro ocupasse a vice de Nunes, algo defendido por alguns políticos e vetado por Salles. Aliados afirmam que o deputado não aceitaria a cadeira de vice, mas retiraria sua candidatura caso outro bolsonarista ocupe esse lugar.
Porém, se o PL indicar um nome do centrão para a vice ou nem sequer ficar com essa vaga na coligação de Nunes, Salles cogita sair do partido e se candidatar por uma sigla nanica. O plano dependeria do aval de Bolsonaro.
Bolsonaristas dizem que, na pior hipótese, seria preferível perder marcando posição numa candidatura nanica do que perder após negociar o apoio do PL a Nunes.
Interlocutores do prefeito minimizam a concorrência com Salles desde que Nunes mantenha o PL na coligação e o bolsonarista apoie o prefeito num eventual segundo turno. Já uma das vantagens de ter o apoio de Salles desde o primeiro turno seria evitar que ele, como concorrente, lance críticas à gestão do emedebista.
Bolsonaro tem sido aconselhado a apoiar um candidato viável em São Paulo, para evitar se associar a derrotas o naufrágio em 2020 com Celso Russomanno (Republicanos) ficou de aprendizado.
Nesse sentido, Nunes larga na frente com o desenho de uma aliança numerosa, com recursos e tempo de TV, além de deter a máquina da prefeitura. Tudo isso pode não servir de nada, como lembram bolsonaristas, ao mencionarem o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), derrotado em 2022.
Para entusiastas e adversários de Nunes, a sua viabilidade está atrelada ao sucesso da administração, que vem sendo criticada pelo descaso com a limpeza e com os moradores de rua. Não é a toa que a prefeitura vai ampliar de forma significativa o gasto com zeladoria, em busca de resultado em um ano e seis meses.
Nunes articula uma ampla aliança de centro-direita, com MDB, PSDB, PSD, Podemos, PP, União Brasil, Republicanos e PL legendas representadas em um jantar oferecido pelo prefeito no fim do mês passado.
Da mesma forma, em relação ao seu discurso eleitoral, aliados de Nunes afirmam nos bastidores que ele deveria buscar o caminho do meio. Ou seja, se concentrar em temas da cidade, sem radicalizar, nacionalizar ou entrar na polarização entre esquerda e direita.
Essa foi a fórmula que reelegeu Bruno Covas (PSDB) em 2020, de quem Nunes foi vice e herdou a cadeira após a morte do tucano em maio de 2021. A coligação tinha 11 partidos, e Covas apresentou-se como um candidato de centro.
Naquela eleição, com Bolsonaro ao lado de Russomanno e a esquerda representada por Boulos, Covas ficou livre para se posicionar entre um e outro.
Embora a sua ligação umbilical com Bolsonaro não lhe permita reivindicar o centro, Salles também visa ampliar seu eleitorado para além do bolsonarismo raiz, o que é necessário para tornar-se competitivo.
Interlocutores do deputado avaliam que não há como ele se desvincular do ex-presidente e nem é essa sua intenção, pelo contrário, mas Salles também terá um discurso voltado para a cidade denunciando supostos esquemas que atrapalham os serviços da população.
Os cálculos dos times de Nunes e Salles em relação a Bolsonaro levam em conta o cenário adverso para a direita na capital, onde Lula (PT) derrotou Bolsonaro por 53,5% a 46,5% e Fernando Haddad, candidato a governador, derrotou o eleito Tarcísio (54,4% a 45,5%).
Ainda assim, lembram políticos da direita, a cidade elegeu João Doria no primeiro turno em 2016 no contexto do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Portanto, na avaliação de estrategistas de ambos os Ricardos, a situação do governo Lula e o envolvimento do petista na campanha de Boulos pesará na eleição de 2024.
Nunes e Salles vêm fazendo seus movimentos em direção ao bolsonarismo, a começar pela escolha dos marqueteiros
Duda Lima, que foi o responsável pela campanha de Bolsonaro em 2022 por indicação do PL, deve comandar a campanha do prefeito. E Salles contratou Pablo Nobel, que fez a campanha de Tarcísio.
Nos últimos dias, como mostrou o Painel, os dois postulantes se reuniram com bolsonaristas. Salles recebeu em sua casa deputados federais e estaduais da ala fiel a Bolsonaro do PL. O ex-ministro também acompanhou a posse dos deputados estaduais, posou para fotos e foi tratado como candidato pelos bolsonaristas.
Já Nunes se reuniu com Eduardo Bolsonaro e Osmar Terra (MDB-RS) na prefeitura. Segundo políticos próximos, a conversa entre o prefeito e o filho do ex-presidente selou uma primeira aproximação trataram de assuntos da cidade e uma possível candidatura de Eduardo foi mencionada brevemente.
Salles não tem outra opção a não ser abraçar a pecha de bolsonarista, mas aliados de Nunes ponderam sobre as vantagens e desvantagens de ser o representante da direita ideológica na disputa da capital.
Por um lado, os votos dos apoiadores do ex-presidente são cruciais para a ida ao segundo turno, e há uma aposta de que a eleição não seja tão nacionalizada, ou seja, que temas tóxicos como golpismo e negacionismo sejam secundários.
No entanto, caso carregue o carimbo de bolsonarista, Nunes pode viver uma relação ambígua com o público do ex-presidente, como aconteceu com Russomanno, alvo de fogo amigo da direita na campanha.
Nem Nunes nem Russomanno são bolsonaristas raiz. É justamente para evitar esse incômodo visto em 2020 que o núcleo da direita ideológica defende a candidatura de Salles.
O prefeito é simpático ao ex-presidente, que fechou acordo de R$ 25 bilhões para extinguir a dívida da prefeitura com a União em troca da cessão do Campo de Marte o que salvou o caixa do município.
Contudo, tem mantido uma distância protocolar. No segundo turno de 2022, por exemplo, Nunes declarou apoio explicitamente a Tarcísio, o que evitou fazer com Bolsonaro.
Autor(es): CAROLINA LINHARES / FOLHAPRESS