SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do PDT, Carlos Lupi, que é ministro da Previdência do governo Lula (PT), rebateu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, para fustigar o partido, adotou a estratégia de relembrar a posição do dirigente no debate sobre voto impresso e urnas eletrônicas.
O PDT é o autor da ação que pode deixar o ex-presidente inelegível e começa a ser julgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta quinta-feira (22). O processo se baseia na reunião do então presidente com embaixadores em que fez acusações contra o modelo eleitoral brasileiro sem apresentar provas.
“O sistema foi aperfeiçoado e é comprovadamente seguro. A própria eleição desse senhor em 2018 comprovou isso”, disse Lupi à reportagem, ao contestar a argumentação do ex-presidente.
O ministro faz uma diferenciação entre a posição que externou em 2021, favorável à implementação de uma espécie de recibo nas urnas eletrônicas, e as críticas de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, envoltas em uma série de mentiras e distorções agora sob análise na corte eleitoral.
Historicamente, o PDT é defensor de instrumentos que permitam a recontagem dos votos, na linha do que pregava o principal líder da legenda, Leonel Brizola (1922-2004). Na época da discussão iniciada por Bolsonaro, Lupi afirmou que a postura não poderia ser confundida com a do então presidente.
O PDT orientou sua bancada de 25 deputados federais a votarem contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que tentou modificar o sistema. Na ocasião, o dirigente afirmou que os bolsonaristas queriam “voltar à idade da pedra”, com votação e apuração integralmente em papel.
Questionado nesta quarta (21), o ministro refutou a aparente contradição que vem sendo apontada por Bolsonaro. “Nós sempre nos colocamos favoráveis à auditagem das urnas. Jamais desconfiamos ou agredimos os ministros do STF”, disse, em alusão às brigas do ex-presidente com o Supremo.
“Ao longo do tempo, o sistema se mostrou eficiente e confiável. Como todo ser humano, somos capazes de evoluir, [já] outros continuam presos à ignorância e à agressividade contra a ciência e a tecnologia. Por isso entramos com esse processo e temos confiança na decisão do TSE”, completou.
Lupi sempre combateu a tese de que o PDT que concorreu à Presidência com Ciro Gomes em 2022 estivesse embarcando na estratégia bolsonarista para deslegitimar o sistema. Ele costumava frisar a necessidade de ter instrumentos para realizar uma auditoria, se fosse preciso.
“Sem a impressão do voto, não há possibilidade de recontagem. Sem a recontagem, a fraude impera”, afirmou o pedetista em um vídeo de maio de 2021 que foi recuperado pelos apoiadores de Bolsonaro às vésperas do julgamento no TSE.
Na gravação, ainda disponível no perfil de Lupi, ele defendia a existência de meios para conferir os votos em caso de desconfiança. “Nós, do PDT, através do nosso líder Leonel Brizola, fomos quem primeiro falou isso.”
Entre bolsonaristas, passou a ser difundida a mensagem de que o partido já questionou as urnas e, portanto, está sendo incoerente.
Nesta quarta, durante entrevista à CNN Brasil na qual justificou a reunião com os embaixadores e defendeu sua inocência, Bolsonaro enfatizou a posição do PDT sobre voto impresso.
“Quem entrou com ação contra mim? Quem foi? Foi o PDT, do senhor Carlos Lupi. Ele sempre defendeu o voto impresso e ele falou claramente que sem o voto impresso poderíamos ter fraude no Brasil. Quem disse foi ele. E é uma coisa curiosa ele entrar com uma ação contra mim”, disse.
“A questão do PDT é antiga, no caso Proconsult, do Rio de Janeiro, no tempo do senhor Leonel de Moura Brizola, que desconfiou que algo estava sendo tratado contra ele e conseguiu evitar uma fraude.”
No mesmo dia, pela manhã, Bolsonaro também falou sobre Lupi e abriu espaço para que fosse relembrada a posição pró-auditoria. Após conversar com jornalistas ao sair do Senado, o ex-presidente passou a palavra ao deputado federal Filipe Barros (PL-PR), que lembrou a posição do partido adversário em 2021.
“Tanto eu quanto a deputada Bia [Kicis, do PL-DF], autora da PEC do voto impresso à época, estivemos juntos com o presidente do PDT, o senhor Carlos Lupi, partido ao qual nós respeitamos, que foi inclusive o primeiro partido da história do Brasil a defender o voto impresso em decorrência da tentativa de fraude no caso Proconsult, no Brizola”, disse Barros.
O parlamentar recordou, durante a entrevista coletiva, a postagem de Lupi com alusão ao risco de fraude caso não houvesse a possibilidade de recontagem. “E esse mesmo partido agora entra [com ação] contra o presidente Bolsonaro”, comentou.
A deputada Júlia Zanatta (PL-SC), que também compunha a comitiva, ironizou a situação em suas redes sociais, dizendo que o presidente do PDT fez comentários sobre o processo eleitoral “que seriam considerados nada democráticos pela imprensa e pelo TSE atualmente”.
Autor(es): JOELMIR TAVARES / FOLHAPRESS