SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O MBL (Movimento Brasil Livre) fará prévias para escolher seu pré-candidato à Prefeitura de São Paulo entre o deputado federal Kim Kataguiri e o estadual Guto Zacarias. Ambos são filiados à União Brasil, sigla que apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o que pode ser um entrave aos planos.
Como revelou a Folha de S.Paulo em maio, o MBL cogitava lançar Kim, mas o parlamentar em segundo mandato indicou à época estar indeciso sobre o assunto e defendeu que fossem avaliados também outros membros de visibilidade do grupo, como Guto, que estreou neste ano na Assembleia Legislativa.
Segundo a organização, 12 mil pessoas estão aptas a participar das prévias, uma votação interna para decidir quem sairá candidato, aos moldes das feitas por partidos tradicionais, como PSDB e PT. O MBL também trabalha para se tornar uma legenda, mas hoje tem membros alojados em várias siglas.
Em comunicado a ser distribuído nesta quarta-feira (21), o movimento diz que buscou adotar uma forma de escolha democrática e que pretende promover uma série de debates entre os dois postulantes.
Kim, 27, que faz oposição ao presidente Lula (PT) e tem atuado na Câmara com a pauta da educação, e Guto, 24, que é vice-líder do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Assembleia, demonstraram interesse em concorrer a prefeito e se dispuseram a enfrentar o escrutínio dos pares.
O próprio MBL destaca que os dois têm projetos diferentes para a capital paulista, com “concepções distintas de cidade”, mas ambas sintonizadas com os valores do movimento, que foi criado em 2014 e teve papel relevante na convocação de marchas pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Segundo o grupo, Guto avalia as questões urbanísticas como centrais nos problemas de São Paulo e parte de suas visões coincide com as que foram apresentadas em 2020 por Arthur do Val, que foi o candidato do movimento e surpreendeu ao terminar em quinto lugar, com 9,78% dos votos válidos.
Kim, por sua vez, estabelece como prioridades o investimento em políticas de educação, tidas por ele como fundamentais para promover transformações sociais. O MBL diz que o deputado apresentará um projeto novo e original nesse campo, que também poderá ser debatido ao longo das prévias.
Para o movimento, a experiência na eleição municipal anterior mostrou espaço para um candidato de perfil liberal, jovem e combativo.
Mamãe Falei, como é conhecido Do Val, está impedido de disputar novamente porque ficou inelegível por oito anos após a cassação de seu mandato de deputado estadual em 2022. Ele caiu em desgraça após virem a público falas machistas relacionadas às mulheres ucranianas vítimas da guerra, mas segue como membro e deve atuar nas campanhas de participantes do MBL.
A entidade diz que terão direito a votar nas prévias todos os alunos da Academia MBL (plataforma de cursos pagos), coordenadores, militantes e apoiadores cadastrados no Clube MBL (que dá acesso a conteúdos exclusivos e eventos). A data da votação interna ainda será anunciada.
O grupo avalia que o imbróglio partidário terá que ser discutido num segundo momento, já que hoje a tendência é a União Brasil integrar a coligação de Nunes. Dirigente da sigla no município, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, é um dos principais aliados do atual prefeito.
Quando questionado sobre a discussão de outras candidaturas dentro da legenda, Leite diz que todo filiado tem direito a pleitear uma cadeira, mas que o posicionamento será decidido em convenção, com a participação de outras instâncias partidárias.
Kim e Guto não podem trocar de partido a qualquer momento, sob risco de perderem os respectivos mandatos. As opções são tentar uma saída negociada da sigla, buscar uma expulsão, recorrer à Justiça Eleitoral alegando perseguição ou esperar até 2024 para a janela partidária, que libera a migração.
Além de Nunes, a corrida municipal tem colocados os nomes dos deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) –apoiado por Lula– e Tabata Amaral (PSB) e do apresentador José Luiz Datena (PDT).
O também deputado federal Ricardo Salles (PL), que se articulava para concorrer com o apoio de Jair Bolsonaro (PL), desistiu de arregimentar endosso do partido à sua candidatura depois que o ex-presidente se aproximou de Nunes e indicou disposição de estar com ele na campanha à reeleição.
A criação de um partido pelo MBL deve ganhar tração a partir do segundo semestre, com a coleta de assinaturas para oficializar o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). São necessários 492 mil apoios, em ao menos nove estados. A previsão é que a legenda só consiga concorrer no pleito de 2026.
O movimento busca se firmar à direita como opção ao bolsonarismo. No mês passado, o MBL desistiu de organizar um ato contra Lula e o PL das Fake News depois que bolsonaristas pregaram boicote à manifestação, jogando por terra a ideia de unir a oposição ao presidente nas ruas.
Autor(es): JOELMIR TAVARES / FOLHAPRESS