BRASÍILIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) usou parte de sua transmissão ao vivo nesta segunda-feira (19) para atacar o seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e seu grupo político, voltando a usar o termo “fascista”.
Lula assim rompe com a promessa feita por seu governo, de que as lives teriam apenas caráter institucional e que em nada lembrariam as transmissões de Bolsonaro que usava esse meio para despejar fake news e atacar seus adversários.
Lula realizou na manhã desta segunda-feira (19) a sua segunda transmissão ao vivo nas redes sociais, que foi nomeada Conversa com o Presidente pelo governo.
As transmissões ao vivo estavam programadas para acontecer semanalmente, às terças-feiras. O presidente, no entanto, embarca ainda nesta segunda-feira para a Europa, para uma viagem oficial para a Itália e França.
Assim como no primeiro Conversa com o Presidente, Lula foi entrevistado pelo jornalista Marcos Uchôa, da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).
Quando o plano de realizar lives foi divulgado inicialmente, a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) buscou afastar a possibilidade de copiar o modelo usado por Bolsonaro.
O então presidente usava seu espaço para espalhar fake news, questionar a eficácia de vacinas e a segurança das urnas eletrônicas e, em todos os episódios, atacava um outro adversário político.
O formato usado por Lula, sendo entrevistado por um jornalista, visa dar um caráter institucional para a transmissão, mantendo o foco nas realizações e planos do governo. O primeiro episódio seguiu esse modelo à risca, sem nenhuma menção a adversários.
No entanto, na conclusão da segunda transmissão, Lula disparou uma série de ataques a Bolsonaro e seus aliados, mesmo sem ter sido questionado sobre o assunto.
O entrevistador o havia questionado sobre o seu telefonema no dia anterior para parabenizar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelo seu aniversário de 92 anos.
Lula então acrescentou que também convidou o ex-presidente José Sarney para inaugurar a ferrovia Norte-Sul, por ele ter sido o mandatário que iniciou a obra nos anos 1980. E na sequência começou a atacar Bolsonaro.
“Eu penso que estamos vivendo em um mundo que toda vez que a gente puder transparecer na nossa atitude fraternidade, amor, bondade, solidariedade, temos que fazer. Porque é preciso acabar com esse clima de ódio que foi criado no mundo, e no Brasil”, afirmou o presidente.
“Os fascistas já está provado que eles tentaram dar um golpe e coordenado pelo ex-presidente, que agora tenta negar. Mas quando ele perdeu as eleições ele ficou trancado dentro de casa para ficar preparando o golpe.”
“Então eu acho que vamos apurar isso com muita tranquilidade. Todo mundo terá a chance de se defender. Então quero que as pessoas fiquem tranquilas que vamos investigar. Quem tiver culpa no cartório terá que pagar”, completou o presidente.
O entrevistador então buscou mudar o assunto, falando em recuperar a boa convivência que ele mantém com FHC e Sarney, que é o “normal da política”. Mas Lula ignorou a deixa e voltou a atacar Bolsonaro.
Não vamos aturar as pessoas que tentaram dar golpe e destruir a democracia no país.
“Eu conversava com o Sarney, com o Itamar [Franco], com o Collor. Agora você tem um cidadão que não quer conversar com ninguém, só quer transmitir mentira, fake news, só quer falar bobagem e agressão contra os outros. Ou seja, isso tem que acabar, porque esse país tem que voltar a gostar da paz”, completou.
Na sequência, ao falar da situação econômica, Lula também voltou a criticar a alta taxa de juros, o que vem se tornando uma constante em suas falas. Mas aproveitou para mencionar diretamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque já sei que ele não baixa, mas precisa explicar ao povo brasileiro e ao Senado que o elegeu por que ele mantém essa taxa de 13,75% para um país com inflação anual de 5%.”
Autor(es): RENATO MACHADO / FOLHAPRESS