Grupo de Eduardo Leite avança no PSDB de SP, e aliado de Doria é pressionado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente nacional do PSDB, governador Eduardo Leite (RS), avançou no controle do diretório paulista da sigla, último bastião do partido ligado ao ex-governador João Doria.

O prefeito de Santo André, Paulo Serra, assumiu nesta segunda-feira (19) a presidência da federação PSDB-Cidadania em São Paulo com o apoio do gaúcho —enquanto o presidente estadual da sigla, Marco Vinholi, aliado de Doria, tem enfrentado pressão para deixar o posto.

Sob o comando de Paulo Serra, o partido, que vem perdendo prefeitos para outras siglas, vai criar uma comissão eleitoral para traçar estratégias para as eleições municipais de 2024. Num outro gesto a Leite, a tesouraria do PSDB-SP ficará a cargo de Orlando Faria, também aliado do governador.

Na prática, a ascensão de Paulo Serra na federação esvazia o poder de Vinholi no diretório —e foi uma forma de buscar uma composição que acomodasse o grupo de Doria e o de Leite no partido.

Além de Paulo Serra, outros tucanos como Barjas Negri e o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, integram a federação. Vinholi, por sua vez, é o tesoureiro da união entre as legendas.

Também nesta segunda, porém, cresceu a oposição ao atual chefe estadual na sigla e parte da militância passou a pedir até uma intervenção de Leite no diretório para destituí-lo.

Isso porque o dirigente esteve, no fim de semana, em um almoço no interior de São Paulo em que cinco prefeitos do PSDB se filiaram ao PL de Jair Bolsonaro.

Estiveram presentes no evento, além do ex-presidente, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o secretário estadual e presidente do PSD, Gilberto Kassab.

O anfitrião foi o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, que também deixou o PSDB rumo ao PL. Machado, assim como Vinholi, fazia parte do núcleo duro de Doria no partido.

Tucanos ouvidos pela reportagem afirmam que a ida de Vinholi ao evento foi um aceno ao grupo de Bolsonaro e de Tarcísio, já que o tucano precisa do apoio do governador para manter seu posto de diretor técnico no Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Aliados de Vinholi afirmam que essa é uma narrativa da oposição.

Em nota, Vinholi afirmou ver “de forma lamentável a exploração de um factoide por parte de alguns integrantes (de oposição) do partido, que, aparentemente, querem usar a ocasião para investir numa tentativa de golpe travestido de intervenção”.

“Esse tema [de intervenção], aliás, tem se feito presente muito antes do evento ocorrido no sábado, em Jundiaí, conforme amplamente divulgado pela própria imprensa. Trata-se de puro oportunismo, que não condiz com a história democrática da sigla”, diz o texto.

Aliados do presidente estadual afirmam que, desde que Leite assumiu o PSDB nacional, havia a ameaça de uma intervenção em São Paulo como uma forma de retaliação –o gaúcho e Doria eram adversários internos e disputaram prévias, vencidas pelo paulista.

Para eles, a presença de Vinholi no evento acabou sendo a desculpa que os aliados de Leite queriam para removê-lo.

Nesta semana, estão previstas reuniões da cúpula estadual e nacional do partido para tratar do tema –uma intervenção não é descartada. A princípio, porém, aliados de Leite esperam que Vinholi deixe o partido por conta própria, embora o entorno do dirigente afirme que ele não cogita isso.

“Lamento, acho que foi um erro, um equívoco do Vinholi”, diz Paulo Serra a respeito da presença do dirigente tucano no evento de Machado.

O episódio insuflou militantes que passaram a defender em grupos de WhatsApp uma intervenção em vez do acordo feito com Vinholi —que envolveu mantê-lo na direção, mas com Paulo Serra à frente de decisões importantes. Para parte dos tucanos, a atitude do dirigente foi injustificável e vista como uma traição.

“Isso gerou a necessidade de uma reanálise do caminho traçado, gerou dúvidas”, completa Paulo Serra.

Na prática, o acordo entre Paulo Serra e Vinholi daria início a uma gestão de transição no PSDB paulista. Para concretizar seu plano de ser candidato à Presidência da República, Leite vai precisar do apoio do partido em São Paulo, estado onde o PSDB é mais organizado e mais numeroso do que no restante do país.

A realização de convenções estaduais, que definirão o novo comando dos partidos nos estados, está prevista para setembro –e é esperado que Paulo Serra ou outro nome apoiado por Leite vença em São Paulo.

À Folha o prefeito de Jundiaí defende Vinholi e diz que todas as autoridades, inclusive ele, estavam no evento Conexidades, que reúne prefeitos e vereadores, e, em seguida, foram convidadas para almoçar em sua casa, onde ocorreram as filiações. Machado afirmou ainda que agradeceu a Vinholi pelos anos no PSDB e lhe desejou sorte.

Machado diz que seria “uma enorme injustiça criar um factoide como subterfúgio para decisões que alguns desejam que sejam tomadas”. Ele diz ainda que o PSDB tem formas mais “inteligentes e coerentes” de encontrar seus caminhos do que uma intervenção.

De acordo com tucanos, Vinholi, apesar de ser ligado a Doria, vinha fazendo gestos de aproximação com Leite e buscava evitar uma intervenção. Num PSDB diminuído no estado, o grupo que dava sustentação ao ex-governador paulista já não tem a mesma representatividade e também busca outros rumos, a exemplo de Machado.

A permanência do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) também é tida como incerta.

Apoiadores de Paulo Serra afirmam que a criação da comissão eleitoral vai sinalizar a prefeitos tucanos que há uma luz no fim do túnel e o partido está se dedicando a um plano de reconstrução, o que pode ajudar a segurar a debandada geral.

Paulo Serra ficará encarregado da principal função do partido ao nível local –preparar candidaturas tucanas para disputar nas cidades do interior.

“O novo comando da federação é um passo importante da restruturação do partido. É a legitimação e consolidação desse movimento”, diz o prefeito de Santo André.

Autor(es): CAROLINA LINHARES / FOLHAPRESS

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