BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O comandante do Exército, general Tomás Paiva, avalia anular a nomeação do coronel Jean Lawand Junior para a Representação Diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington.
A decisão seria uma reação após a Polícia Federal identificar uma série de mensagens em que o militar sugeria ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, que auxiliasse o então presidente a “dar uma ordem” para ação das Forças Armadas contra a eleição de Lula (PT).
Generais consultados pela Folha afirmaram que Lawand responderá judicialmente às mensagens que enviou a Cid e que eventuais decisões administrativas serão tomadas por Tomás Paiva após uma conversa que terá com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, nesta sexta-feira (16).
As conversas entre Lawand e Cid foram reveladas pela revista Veja. Nas mensagens, o coronel pedia ao ajudante de ordens para que Bolsonaro desse um golpe contra a eleição de Lula. “Convença o 01 a salvar esse país!”, escreveu em uma das conversas.
O Exército não costuma abrir processos administrativos nestes casos, por considerar que o caso precisa antes ser analisado pelas instâncias judiciárias.
Decisão semelhante foi tomada quando Cid passou a ser investigado pela PF pelas movimentações financeiras na Presidência. A Força não abriu processo interno contra o tenente-coronel, mas decidiu, em acordo com o militar, não o deixar assumir o comando do 1º Batalhão de Ações de Comando, em Goiânia (GO).
A revelação de diálogos envolvendo um militar da ativa foi avaliada dentro do Ministério da Defesa como uma situação delicada.
Após ser informado do caso, o ministro José Múcio marcou para esta sexta uma conversa com o comandante do Exército para discutir a condição de Lawand e avaliar providências em relação ao coronel.
O ex-ajudante de ordens Mauro Cid com o presidente Jair Bolsonaro Adriano Machado – 18.jun.2019/Reuters **** “Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprir a ordem do, do Comandante Supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um General, que não recebeu, que não aceitou a ordem do Comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer”, disse Lawand em um áudio, segundo transcrição da Polícia Federal.
À Veja Lawand afirmou ser amigo de Cid, com quem conversava amenidades. Ele também disse não se recordar de nenhum diálogo de teor golpista com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O coronel Jean Lawand Junior é atualmente supervisor do Programa Estratégico Astros do Escritório de Projetos do Exército, do Estado-Maior da Força.
Lawand formou-se na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1996, com a melhor nota entre os cadetes da turma Bicentenário da Inconfidência Mineira. Durante os quatro anos de formação, ele esteve ao lado do atual governador de São Paulo, Tarcísio Freitas.
Durante a carreira, o coronel passou por áreas ligadas a mísseis e foguetes, currículo que o credenciou para assumir a supervisão do Programa Astros, considerado um dos principais projetos estratégicos do governo.
Segundo generais ouvidos pela Folha de S.Paulo, Lawand era um dos cotados para ser promovido a general de brigada em 2025, por já ter assumido cargos de comando e pelas posições nas turmas de formação militar.
O período da promoção seria próximo à volta de Lawand dos EUA. Em fevereiro, Tomás Paiva assinou uma portaria designando Lawand para a missão no exterior a partir de 2 de janeiro de 2024.
A anulação da movimentação seria uma forma de garantir que o militar esteja no Brasil enquanto as investigações estão em curso.
Em uma das conversas, o coronel Lawand repassa mensagem de um amigo que afirma ter se encontrado com o general Edson Skora Rosty.
Subcomandante de Operações Terrestres do Exército à época das mensagens, Rosty teria garantido ao interlocutor que a Força terrestre cumpriria uma eventual ordem de intervenção caso a recebesse. Ainda segundo esse relato, o general teria ponderado que o Exército nada faria sem uma ordem de Bolsonaro porque o movimento seria visto como um golpe.
O general três estrelas foi para a reserva do Exército em abril deste ano, após o Alto Comando da Força decidir promover um militar mais moderno que Rosty para o cargo de general de Exército (quatro estrelas).
Foi ele quem abrigou Cid no Comando de Operações Terrestres após o Exército decidir que ele não assumiria o comando do batalhão de Goiânia.
No caso de Rosty, a decisão interna é não abrir nenhum procedimento contra o general, por ele estar na reserva e o caso ser considerado um boato. À Veja o militar disse não se lembrar da conversa citada por Lawand.
Autor(es): CÉZAR FEITOZA E BRUNO BOGHOSSIAN / FOLHAPRESS