Bolsonaro diz esperar que TSE o julgue como julgou Dilma

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi ao gabinete de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na manhã desta quarta-feira (21). Essa é a segunda vez neste mês que Bolsonaro visita o filho mais velho no Senado.

Após o encontro, Bolsonaro afirmou que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que julga nesta quinta-feira (22) uma ação que pede sua inexigibilidade, use o mesmo entendimento de 2017, quando decidiu não derrubar a chapa composta por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

“Me julgue a exemplo do que foi julgada o caso da chapa Dilma-Temer”, afirmou ele, também ao lado do outro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), da deputada Bia Kicis (PL-DF) e do deputado Filipe Barros (PL-PR).

Bolsonaro deixou a reunião com seus aliados segurando na mão uma folha de papel com tópicos escritos à mão, justamente com sua linha de defesa baseada no caso Dilma-Temer.

O argumento de Bolsonaro é que, em 2017, o TSE não aceitou fatos novos na hora de julgar Dilma e Temer. Por isso, a avaliação do seu caso deveria se reter apenas à reunião feita com embaixadores e não a declarações posteriores questionando as urnas, por exemplo.

E acrescentou que, graças à absolvição, Temer pode seguir como presidente e, depois, indicar o nome de Alexandre de Moraes ao STF (Supremo Tribunal Federal). Hoje, ele preside justamente o tribunal eleitoral que julgará Bolsonaro.

“Por ironia do destino, o sr. Alexandre de Moraes é [hoje] presidente do TSE. Espero que ele aja com imparcialidade, junto com o tribunal como um todo”, afirmou.

Bolsonaro disse ainda esperar que o ministro Benedito Gonçalves, que já votou pela inelegibilidade, altere seu entendimento.

“Seu benedito é uma pessoa de coerência”, completou. “Digo, respeitosamente, prezado sr. Benedito, presidente de uma corte respeitável como o STJ [Superior Tribunal de Justiça], o seu voto não pode ser dessa forma.”

O ex-presidente disse que não comentaria a hipótese de tornar-se inelegível e também não projetou seu futuro caso mantenha a possibilidade de concorrer.

“Não pretendo e não gostaria de perder meus direitos políticos. Não sei se vou ser candidato no ano que vem a prefeito ou vereador, ou se, no futuro, a senador ou presidente. Agora, para ser candidato, eu tenho que manter meus direitos políticos”, disse.

O conteúdo e as circunstâncias da reunião com embaixadores realizada por Bolsonaro no passado está no centro da ação eleitoral que começará a ser julgada pela Justiça Eleitoral e que pode torná-lo inelegível por oito anos.

Na ocasião, a menos de três meses do primeiro turno, o então presidente fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.

A avaliação de ministros e advogados nos bastidores é que as duas últimas trocas no tribunal, que contaram com influência do ministro Alexandre de Moraes, tornaram o cenário ainda mais desfavorável a Bolsonaro.

A corte tem sete ministros. O presidente é Moraes, que conduz os inquéritos contra Bolsonaro no STF e se tornou o principal algoz do bolsonarismo no Judiciário.

A vice-presidente do tribunal eleitoral, Cármen Lúcia, também já deu demonstrações públicas de contrariedade às ideias defendidas pelo ex-chefe do Executivo. Na eleição do ano passado, Bolsonaro chegou a acusá-la de trabalhar para derrotá-lo nas eleições e eleger o presidente Lula (PT).

Nesta quarta, o Senado sabatina Cristiano Zanin, advogado de Lula e indicado pelo mandatário ao STF, e debate o novo arcabouço fiscal.

Bolsonaro disse que a indicação é “privativa” do Presidente da República e comparou a situação com quando ele próprio enviou ao Senado o nome de André Mendonça, chamado de “terrivelmente evangélico”, para entrar no STF.

Na avaliação de aliados do ex-presidente, Bolsonaro tem se movimentado e feito aparições públicas para para mostrar que não se sente afetado pelo julgamento que ocorre nesta semana. O ex-chefe do Executivo deverá ainda cumprir agendas em outros estados nos próximos dias ao lado de representantes do PL, mirando aumentar o número de filiados da legenda e já de olho nas eleições municipais.

O ex-presidente voltou a criticar as prisões feitas no âmbito das investigações dos atos golpistas de 8 de janeiro e lembrou a declaração do atual ministro da Defesa José Múcio —a quem chamou de “bem informado”— de que não haveria uma figura central por trás da invasão dos Três Poderes.

“Nunca vi golpe num domingo, nunca vi golpe sem armas. Estão querendo dar ares de golpe ao 8 de janeiro. Houve um ato de vandalismo e depredação, que são abomináveis, ninguém concorda com isso, mas tomada de poder, isso não existe”, completou.

Autor(es): JOÃO GABRIEL / FOLHAPRESS

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