O uso ilegal de remédios controlados como anabolizantes ganhou um novo alerta: as falsificações. Lotes falsos de Deca-Durabolin e Durateston foram proibidos e apreendidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na última semana. Longamente utilizados de forma indevida para fins estéticos, os medicamentos são originalmente prescritos para reposição de hormônios em organismos que não os produzem adequadamente. Quando usados sem recomendação em indivíduos saudáveis, causam efeitos colaterais graves, que vão desde mudanças físicas até a morte.
Comuns nas academias de musculação e luta, os medicamentos são principalmente buscados por homens que querem alcançar objetivos estéticos com maior rapidez. Deca-Durabolin, Metenolona e Durateston landerlan são utilizados, muitas vezes associados, para promover ganho de massa muscular e perda de gordura em um período que o corpo sozinho não conseguiria. Os riscos para a saúde, porém, são altos.
Personal trainers e treinadores esportivos consultados pela Folha dizem que o consumo dos anabolizantes para ganho de massa muscular e melhora do desempenho é corriqueiro, mas poucos usuários aceitam falar abertamente sobre o tema.
A SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo) é contrária a prática devido aos riscos, que variam de excesso de acne, mudanças na voz, crescimento de mamas em homens e do clitóris em mulheres, até danos hepáticos graves, diminuição da fertilidade, problemas cardíacos e morte súbita.
“São dois remédios importantes para tratar doenças. Os efeitos colaterais estão associados ao seu uso inadequado”, afirma Alexandre Hohl, vice-presidente do departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da instituição.
Para ganho de massa muscular para fins estéticos, os medicamentos devem ser usados em doses muito superiores ao indicado na bula, o que gera um alto risco aos usuários, afirma Hohl.
“Um homem que não produz testosterona de maneira adequada vai fazer uma [injeção de] Durateston a cada 15 ou 20 dias. Os caras que fazem anabolizante fazem dez, 20 ampolas por mês deste tipo de hormônios”, diz o médico.
O vice-presidente destaca que falsificações dos fármacos são um problema antigo e agravado pelo uso indevido, uma vez que o remédio prescrito precisa ser comprado com receita e na farmácia.
Os lotes falsos eram comercializados sob a marca “Schering-Plough”. Os registros desta farmacêutica para os medicamentos, porém, foram cancelados por transferência de titularidade à Aspen Pharma Indústria Farmacêutica, e ocorreram, à época, “por iniciativa comercial das próprias empresas”, segundo a Anvisa.
As versões de Deca-Durabolin e Durateston da Aspen Pharma, denunciante e atual detentora do registro, permanecem autorizadas para venda.
A foto dos produtos apreendidos apresenta fabricação recente e data de vencimento válida. Como a venda dos medicamentos é controlada, ficam mais expostos ao problema pacientes com prescrição que buscam os remédios a preços menores na internet e aqueles que compram sem receita médica para fins estéticos por meio do comércio ilegal.
O Deca-Durabolin tem como princípio ativo é o decanoato de nandrolona e é indicado para a reposição de testosterona em homens com condições associadas ao hipogonadismo, que provoca deficiência do hormônio. Já o Durateston tem como base ésteres de testosterona e é recomendado para reconstruir tecidos enfraquecidos por doenças crônicas ou danos graves, como HIV ou queimaduras.
O atleta de MMA João Lopes, 29, já recorreu aos anabolizantes. Ele afirma ser comum entre os lutadores o uso de substâncias que melhorem o desempenho, sendo aqueles a base de testosterona os mais comuns.
“Aumenta sua capacidade de treino, de força, de ganhos musculares. Um atleta profissional treina duas a três vezes por dia, aquele que não faz uso do medicamento não consegue treinar em alto rendimento por muito tempo, por conta de lesões e do cansaço físico”, diz ele.
O que já foi garantia de vitória, porém, não é mais em decorrência das novas políticas das competições. Lopes conta que antigamente os testes eram feitos na semana da luta e, assim, os atletas tinham tempo suficiente para utilizarem o produto, obterem os resultados e tirarem a substância do corpo por meio de diuréticos.
“Com a profissionalização dos eventos, as comissões antidoping proíbem os diuréticos no esporte e os testes são feitos de uma maneira aleatória e não sistematizada, podendo pegar o atleta na sua academia no meio de um treino e a meses ainda da realização de sua luta”, afirma.