Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2018
Porque Lula deve ir à Porto Alegre
 | Deixa a turma do deixa-disso para lá |
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Por Fábio Lau*
Lula precisa sair do corner político. Apanhando mais do que coxão duro em cozinha de restaurante a quilo desde a época do Mensalão, o ex-presidente deveria ser alçado pela biologia ou pela sociologia a uma espécie de sobrevivente raro. Espécime de ser humano que sobrevive a toda a sorte de infortúnio no campo político e pessoal desde que decidiu entrar para o ambiente político - e nisso já se vai meio século.
Agora, quando há uma porta de cela aberta pronta para acolhê-lo em Curitiba, o ex-presidente mais popular da história tem na mão uma arma e tanto: apoio popular crescente. Algo inédito, provavelmente, na história dos homens. Atacado por todos os lados e com a imagem combalida, deu a volta por cima em menos de dois anos.
Condenado em primeira instância a 9 anos e seis meses, poderia, eventualmente, ser preso ou mesmo ter cassado o direito de se candidatar no próximo dia 24.
A despeito do reconhecimento do próprio TRF4 de que prisão não haverá, o jogo virou a seu favor. Sua presença, física, mostraria ali, inquebrantável, a figura de um homem surrado, mas esguio e altivo. Que se dispôs a depor, mas cujo testemunho final foi recusado por aqueles que temem olhá-lo e preferem julgá-lo "pelos autos do processo".
Lula criaria, para sua biografia, um novo símbolo - o da coragem e resistência. Além de bela foto para entrar para a história. Ele, a multidão e o Tribunal que não quis ouvi-lo.
Mas a turma do "deixa disso" entrou em campo. Diz temer que sua presença crie alvoroço tal que resulte e algo que possa prejudicá-lo - como se isso fizesse alguma diferença para quem quer vê-lo mais do que condenado e/ou inviabilizado.
Ceder a este grupo do "deixa disso" é repetir as estratégias acovardadas que anistiaram torturadores e assassinos da ditadura militar. Ceder, não comparecendo a Porto Alegre, é deixar em zona de conforto aqueles magistrados que se manifestaram favoráveis ao texto condenatório de Moro antes mesmo de recebê-lo.
Ceder, portanto, é gesto de pouca firmeza e disposição para luta. Um sinônimo? Frouxidão.
Outro dia, sem que lhe perguntassem, Lula disse que negociará, caso seja eleito, com aqueles que votaram a favor do golpe contra Dilma. Um erro. Ele deveria usar sua força para mudar votos dos eleitores que se habituaram a votar na cangalha política capaz de qualquer coisa para atender seus interesses. Lá na frente, caso os canalhas de sempre se elegessem, que sentasse com eles.
O Brasil deve primar, antes de tudo, pelo respeito à Democracia. E Lula, ao agir com rigor e força, estará ajudando institucionalmente a este país que queremos resgatar. Tudo fazer para viabilizar seu nome no próximo pleito não é, definitivamente, o melhor para a história do país. Não se pode tratar golpe político como se fosse desvio de conduta. Que seja Lula um soldado da democracia (como todos nós) antes de acreditar que é a democracia, a qualquer preço, que precisa dele.
A sutileza faz diferença.
* Fábio Lau é jornalista e sabe amaciar coxão duro.
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